Não consegui ainda convencer a mim mesmo de que devo ser candidato, diz Barbosa

Publiciado em 20/04/2018 as 09:08


O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa falhou na tentativa de reunir o apoio dos diferentes grupos do PSB em seu primeiro teste como possível candidato presidencial.

Em reunião nesta quinta (19), na qual se apresentou aos dirigentes da sigla, ele gerou dúvidas sobre a disposição em disputar a sucessão ao Planalto e teve sua eventual candidatura questionada por segmentos de peso da legenda.

O nome de Barbosa enfrenta resistência junto a dirigentes do PSB do Nordeste e do Sudeste, os quais avaliam que o lançamento da candidatura própria atrapalha a composição de alianças estaduais.

No encontro de cerca de duas horas, apenas um dos quatro governadores da sigla presentes participou até o fim. O primeiro a deixar a reunião, Márcio França, de São Paulo, defendeu o apoio da sigla a Geraldo Alckmin, do PSDB. 

O segundo a deixar o encontro, Ricardo Coutinho, da Paraíba, pregou que o ideal seria a formação de uma "ampla frente democrática", podendo ou não ter o PSB como cabeça de chapa. 

"Há dificuldade dos dois lados. O partido tem a sua história e as suas dificuldades regionais. E, do meu lado, eu tenho as minhas dificuldades de ordem pessoal. Não consegui ainda convencer a mim mesmo de que devo ser candidato", disse Joaquim Barbosa. 

Ele ressaltou ainda que é um homem de vida discreta e quieta. "Faz quase quatro anos que eu saí da Suprema Corte. Vocês ouviram falar de mim?", questionou. Para tentar superar as dificuldades, ele deve iniciar a partir da semana que vem uma ofensiva individual aos governadores do partido.

O discurso de Barbosa gerou dúvidas junto ao comando nacional da sigla, que tinha segurança de que ele se filiou à sigla com o propósito único de se lançar candidato presidencial.

Na reunião, ele afirmou que a decisão deve ser muito bem pensada porque é o responsável financeiramente por uma família de oito pessoas. Barbosa atua hoje como advogado. "O cronograma é muito elástico e há muito tempo ainda. O partido pode inclusive optar por escolher um outro nome", afirmou.

Pesquisa

Na chegada, contudo, Barbosa comemorou o resultado da última pesquisa Datafolha, em que tem entre 9% e 10% de intenções de voto. "Para quem não vai frequenta ambientes públicos, órgãos públicos, quem não dá entrevista, quem leva uma vida pacata, está muito bom, né?" 

Nos bastidores, no entanto, Barbosa tem deixado claro que já tomou a decisão de ser candidato e começa a discutir um programa de governo com a defesa do voto distrital misto, ensino integral, geração de emprego e reforma previdenciária. "Ele tem posição mais à esquerda, mais ao centro e mais à direita do que nós", resumiu o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG).

O habitual comportamento inflexível de Barbosa refletiu em sua estreia com a militância e a imprensa. Ele tentou fugir dos jornalistas, irritou-se com o assédio e ignorou homenagem feita pelo movimento negro com cartazes e flores. "A gente fez um material muito lindo para receber o senhor", disse a secretária-geral da Negritude Socialista, Valneide Nascimento, que o abordou na chegada. "Eu tenho horário", disse Barbosa. "Vejo quando sair."

Resistência

Hoje o nome de Barbosa enfrenta resistência junto a dirigentes do partido do Nordeste e do Sudeste. Em São Paulo, o governador Márcio França defende abertamente o apoio a Geraldo Alckmin, do PSDB.

No Nordeste, candidatos a governo preferem que o PSB faça uma aliança com o PT, que tem maior força eleitoral na região. 

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, reconheceu que há dificuldades em alianças regionais, mas que isso pode ser superado. Ele lembrou que em 2002, o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sofreu mais resistência que Barbosa ao se filiar ao PSB. E, mesmo assim, acabou tendo o apoio da legenda para a sucessão presidencial.

Ele descartou a possibilidade de Barbosa ser candidato a vice na chapa de Ciro Gomes ou de Marina Silva. "Nós não convidamos o Joaquim Barbosa ao PSB para ser vice de ninguém e não queremos indicar ele para vice de chapa nenhuma. Quem tem essa esperança pode esquecer", disse.

Siqueira afirmou que a indisposição com a política tradicional deve marcar o pleito de 2018 e que isso beneficiaria uma candidatura de Barbosa. Questionado sobre se a demora para tomar uma decisão pode afetar alianças e o desempenho do candidato, disse que a eleição é atípica e isso deve ter pouco efeito.

"Há candidatos que já estão até há um ano ou meses de pré-campanha e não conseguiram decolar. O único que conseguiu decolar foi o candidato que não pode ser candidato", disse.