Verão 90 capricha na estética, mas esquece de contar uma boa história

Publiciado em 04/03/2019 as 22:20


Uma explosão de cores, trilha sonora vibrante e personagens de caráter bem definido. Essas são apenas algumas das características que fazem de “Verão 90” uma novela das sete típica de algumas décadas atrás: justamente os anos 1990. É fácil associar a atual história da faixa horária a outras tramas que marcaram aquela época, como “Quatro Por Quatro”, “Perigosas Peruas” e “Vamp”. 

O humor pueril presente na atual obra de Izabel Oliveira e Paula Amaral em muito lembra a comédia que permeava os folhetins de antigamente. Assim como a própria estética. Tanto os cenários como a fotografia causam a sensação de se estar assistindo a uma novela que não só retrata os anos 1990, mas que é transmitida na época. A escolha por uma luz mais dura no “set” evidencia exatamente isso.

Estar um ou dois tons acima parece ser lei em “Verão 90”. E combina perfeitamente com a direção apaixonada de Jorge Fernando, que retornou ao trabalho na atual novela das sete, depois de sofrer um AVC em 2016. Conhecido por seu jeito mais escrachado, o diretor sabe como ninguém deixar sua assinatura pelos projetos por onde passa. Com “Verão 90”, não seria diferente.

Talvez, a história em si não tenha tanta força. Os elementos que fazem parte dos anos 1990 acabam se sobrepondo em relação às tramas. Às vezes, parece mais importante colocar uma música de lambada no fundo da cena do que caprichar nos diálogos ou interpretações. Fica a impressão de que vale tudo para mexer com a memória afetiva de quem viveu na época em que a novela é ambientada, mesmo que não seja contando uma boa história.

Ainda assim, algumas atuações merecem destaque. Claudia Raia sempre se sai bem em tipos histriônicos. Por isso, não é nenhuma surpresa seu excelente desempenho na pele de Lidiane, uma ex-atriz de pornochanchada. Protagonista da trama, Isabelle Drummondtambém encontrou o tom, um pouco mais acima, de sua mocinha, Manuzita. Já Jesuíta Barbosa, sempre tão elogiado pelos personagens que interpreta em séries dramáticas, não se mostra confortável como o vilão Jerônimo. Às vezes, o ator fala embolado, em outras, não imprime naturalidade em suas sequências.

O elenco, em sua maioria jovem, traz algumas vantagens a “Verão 90”. Afinal, renovar os rostos que aparecem na tevê faz o público ficar, pelo menos, curioso sobre quem é aquela pessoa que ele não está acostumado a ver nas produções. Mas, por outro lado, a falta de maturidade dos atores pode recair sobre o andamento da novela ou tornar a responsabilidade de veteranos como Humberto Martins, Claudia Ohana e Dira Paes ainda maior em “segurar as pontas”.