Merkel vence eleições mas é ofuscada por avanço da ultradireita
Angela Merkel e os conservadores alemães ganharam as eleições deste domingo (24), mas se viram enfraquecidos pelo avanço histórico da ultradireita e pela dificuldade para formar uma aliança de governo.
"Terremoto eleitoral", resumiu o jornal Bild em sua página na internet, apontando que, com 32,9% dos votos apurados, a CDU-CSU registrou "seu pior resultado desde 1949" e que os social-democratas do SPD (20,8%) "obtiveram seu pior resultado de todos os tempos", enquanto que os ultradireitistas do AfD (13%) se impuseram como "terceira força política" do país.
Merkel, no poder há 12 anos e três mandatos, admitiu que esperava um "melhor resultado", e advertiu que a entrada da ultradireita no parlamento impõe um "novo desafio".
O presidente francês Emmanuel Macron felicitou Merkel pela vitória e disse que isso o permitirá continuar "com determinação" sua "cooperação essencial" com Berlim.
A chanceler terá que buscar pela quarta vez um ou vários parceiros para formar seu próximo governo, já que os social-democratas anunciaram que não voltarão a governar com os conservadores.
O grande perdedor das eleições foi Martin Schulz, líder do SPD, que lamentou um "dia difícil e amargo para a social-democracia".
Ainda não se sabe como será partilha de entre 600 e 700 assentos, em razão da complexidade do sistema de votação alemão. Mas uma coisa é certa: a única maioria que Merkel pode esperar passa por uma aliança com os liberais do FDP e com os Verdes.
O principal obstáculo desta opção está no fato de ambos os partidos defenderem posições opostas em diversos temas, como a imigração e o diesel.
As negociações poderão durar até o final do ano e Merkel não será nomeada chanceler até que forme uma nova maioria. Além disso, Merkel descartou qualquer governo que se apoie em maiorias flutuantes.
Manifestações anti-AfD
A vitória de Merkel foi ofuscada pelo histórico avanço da ultradireita do AfD, que conseguiu cerca de 13% dos votos, segundo as pesquisas de boca de urna.
"Vamos mudar este país [...] Vamos expulsar a senhora Merkel. Vamos recuperar nosso país", lançou Alexander Gauland, um dos líderes do AfD.
A líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen saudou do país vizinho seus "aliados da AfD por este resultado histórico", que representa, segundo ela "um despertar dos povos".
Será a primeira vez desde 1945 que um partido revisionista e contrário ao islã, às elites, ao euro e à imigração entra na câmara dos deputados alemã.
O AfD ficou à frente da esquerda radical de Die Linke (9%), dos liberais do FDP (10%) e dos Verdes (9%).
Nas regiões da antiga Alemanha oriental, os nacionalistas chegaram a se impor como segunda força, com 22,8% dos votos, atrás da CDU (28,6%).
Várias cidades alemãs foram cenário de protestos espontâneos anti-AfD, começando por Berlim, onde centenas de pessoas, custodiadas pela polícia, se concentraram em frente ao local onde o partido comemorava os resultados.
Comunidade judia preocupada
A AfD avançou vários pontos ao final da campanha, apesar de ter radicalizado seu discurso e de ter pedido aos cidadãos que se sintam orgulhosos dos feitos dos soldados alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Algo nunca visto em um país cuja identidade desde o final da guerra foi construída com base no arrependimento pelo nazismo e na rejeição ao extremismo.
A comunidade judaica denunciou o programa "infame" do AfD, que quer pôr fim ao arrependimento alemão pelos crimes nazistas. "Voltam os fantasmas do passado", alertou a revista semanal Der Spiegel.
Durante a campanha, o partido chegou a dizer, entre outras coisas, que a Alemanha se tornou "refúgio de criminosos terroristas do mundo inteiro", além de denunciar a "traição" de Merkel, de 63 anos, por ter aberto as portas em 2015 a centenas de milhares de solicitantes de refúgio, na maioria muçulmanos.
Neste contexto, Merkel terá que dialogar com seus aliados bávaros da CSU e à ala mais conservadora da CDU, que pediram reiteradamente à chanceler que escutasse seus militantes da ala mais radical, que a acusam de ser muito centralizadora.
"Nos descuidamos de nossa ala direita e agora teremos que preencher o vazio com posições mais claras", declarou o chefe da CSU, Horst Seehofer.
O AfD "é competência da união [cristã-democrata] e da família conservadora em geral [...] se abre um período muito difícil para a chanceler", explicou Lothar Probst, cientista político da Universidade de Bremen.
Eclipse solar total de abril será visto no Brasil? Entenda
Fenômeno não poderá ser visto no céu das cidades brasileiras, mas haverá transmissões ao vivo