Temer, mais fortalecido, enfrenta novas acusações de corrupção

Publiciado em 16/09/2017 as 07:29

A história se repete. Três meses depois de ter sido denunciado por corrupção e de salvar a pele, o presidente Michel Temer enfrenta novas acusações que terá de superar novamente, às custas de um clima de tensão em um Brasil abalado por escândalos.

O presidente aparentava tranquilidade nesta sexta-feira em um ato no Rio de Janeiro, um dia depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, formalizar uma segunda denúncia contra ele por "organização criminosa" e "obstrução de justiça".

Temer não fez referência a essa situação que, teoricamente, poderia custar o seu mandato e fez piada dizendo que ainda tem "pouco tempo de governo, mais um ano e meio, mais ou menos", até que entregue o mandato em 1º de janeiro de 2019.

Janot, que já havia acusado o presidente de "corrupção passiva", desferiu o seu último golpe antes de deixar o cargo e acusou Temer de se tornar o "líder de uma organização criminosa" que recebeu propina para facilitar contratos em empresas públicas.

Este esquema supostamente orquestrado por seu partido, PMDB, teria a participação ativa de dois importantes membros de seu governo, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, assim como membros do PT e do PP.

Janot também denunciou o presidente por obstrução de justiça por supostamente tentar evitar que o operador financeiro do PMDB, Lúcio Funaro, assinasse um acordo de delação premiada.

A defesa de Temer já havia acusado Janot de "obsessiva conduta persecutória" e a Presidência disse na quinta-feira que todas as suas acusações são "realismo fantástico em estado puro".

Os números ajudam Temer
Em junho, Temer havia se tornado o primeiro presidente brasileiro em exercício a ser acusado de um crime comum, quando Janot o denunciou de ter se beneficiado de propina da JBS.

Um áudio do presidente gravado por um dos donos da empresa, Joesley Batista, desatou um furacão político.

Mas a Câmara dos Deputados, onde Temer conta com a maioria e boa parte de seus integrantes é investigada por corrupção, se negou a encaminhar o pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"O presidente já demonstrou que tem apoio suficiente no Legislativo para bloquear a denúncia uma vez, e tudo indica que esse apoio deve se manter", disse à AFP Thomaz Favaro, da consultora Control Risks.

Os mercados, que esperam que Temer continue com sua política de ajuste fiscal, estavam eufóricos. No meio da tarde, a Bolsa de São Paulo subia 1,46%.

Embora o presidente tenha uma popularidade de apenas 5%, a nova denúncia chega quando o Brasil começa a sair da recessão. A inflação também está cedendo e permitiu ao Banco Central continuar cortando a sua taxa básica de juros.

"A instabilidade política tem efeitos muito negativos na economia (...) e a manutenção de Temer, e também da equipe econômica, permite recuperar a credibilidade do Brasil", considera Favaro.

Mais desgaste
Os analistas dão por certo que Temer superará esta nova denúncia.

"Não existe aprovação tranquila para um tema com essa delicadeza, vai dar trabalho ao governo. A primeira custou 15 bilhões de reais em membros parlamentares, atendimento à reivindicação ruralista, liberação de obras de interesse da base aliada... Temer comprou a vitória para enterrar a primeira denúncia e vai ter que ir para o balcão de novo", assegura Sylvio Costa, diretor do site Congresso em Foco.

Mas para que a denúncia chegue à Câmara de Deputados, deverá ser validada anteriormente pelo STF.

A favor de Temer pode estar o fato de que parte das acusações de Janot estão baseadas nas delações dos diretores da JBS, que nesta semana perderam a imunidade porque descobriram que ocultaram informações relevantes.

O STF deve decidir na quarta-feira se a anulação do acordo de delação premiada invalida as provas, como a defesa de Temer pretende, apesar de que a denúncia também leva em conta os depoimentos de Funaro.

"A denúncia apresentada parece ser mais abrangente e mais consistente do que a primeira, (...) mas vem de um procurador (...) enfraquecido pelos problemas da delação da JBS, e em um ambiente em que o governo comemora números positivos e mantém a maioria no Congresso", resume Costa.

"Para que essa nova denúncia resulte num afastamento haveria a necessidade de uma movimentação popular que não existe hoje", acrescenta.