História do Movimento LGBT é debatida em Ciclo de formação da Mandata Linda Brasil

Publiciado em 11/04/2021 as 15:41
Assessoria Parlamentar

Com o objetivo de contribuir para uma formação política e social da população, e a superação da crescente LGBTfobia, a Mandata da vereadora Linda Brasil (PSOL), trouxe importantes nomes da luta LGBTQIA+, para a realização do 1º Ciclo de Formação
O tema deste sábado, 10, foi a “História do Movimento LGBT”.

Participaram como palestrantes o ativista Andrey Lemos; servidor público no SUS, militante LGBT desde 1998, Jaqueline Gomes Jesus; ativista e docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro(IFRJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Keila Simpson; Travesti, ativista desde 1991 na luta LGBT em Salvador (BA) e posteriormente no cenário nacional, assumindo a presidência da ANTRA e na condução-mediação a parlamentar e ativista Linda Brasil.

Linda saudou as pessoas participantes, e lembrou como a trajetória dos movimentos sociais e ativistas é responsável pela mudança política que o país vivencia, onde mais de 30 pessoas trans foram eleitas em cargos públicos no país.

Keila Simpson trouxe a história do movimento trans, através da vida de pessoas que estiveram à frente da busca por direitos e espaços, como a história da travesti Maria Lúcia, em Salvador.
“Há 56 anos atrás, antes da Keila nascer, já tinham pessoas aqui lutando, que passaram para que pudéssemos estar aqui. Cada uma dessas meninas, dessas senhoras e dessas velhas que passaram por esse plano resistindo.”, narrou.

Ela conta a história de Giovana Baby, uma mulher travesti que sai do interior do Espirito Santo para se prostituir, no final dos anos 80 e início dos anos 90. Ela, a partir de uma rede de outras mulheres travestis e trans começa uma articulação para que elas se organizassem. “A própria população de travestis que estavam alijadas de seus direitos, passou a ideia de que precisavam se organizar para reivindicar o seu lugar e os seus direitos.”, explicou.

O contato de Giovana Baby com uma pesquisadora no Rio de Janeiro, a motivou a ser uma agente de mudança, em conjunto com outras travestis, fundam uma associação chamada Astral (Associação de Travestis e Liberados). Assim, a partir desse fragmento da história, o público pode vislumbrar os desdobramentos do movimento e sua diversidade de segmentos. A ativista ressaltou que está sendo construído um novo horizonte, a continuidade da luta das que vieram antes.

A professora e ativista Jaqueline Gomes, reforça que quem hoje está na luta LGBTQIA+ tem seus passos iniciados pelos/pelas ancestrais. Cita a ativista Jurema Werneck “nossos passos vem de longe”, frisou.

“O que a gente chama hoje de LGBTQIA+, já tiveram outros nomes, não se restringe a uma sigla, agrega uma diversidade. Existiram muitas de nós que não foram lembradas. É importante lembrar que aws nomemclaturas que usamos hoje, já existiam, elas viviam nas comunidades, mas não se entendiam como nós nos vemos hoje.”, ressaltou Jaqueline.

A educadora contou a história de Chica Manicongo, a trajetória de uma mulher travesti e que ao chegar no Brasil recebeu o nome de Francisco Manicongo. Chica chega em Salvador, é escravizada, mas resiste até ser denunciada e pega pela inquisição.

O ativista Andrey Lemos, agradeceu o espaço e falou sobre a importância de partilhar esse espaço de formação com amigas e companheiras de tantas lutas, construindo redes de afetos e solidariedade.

“Eu iniciei minha luta no movimento estudantil, mas ao perceber que o racismo aumentava a minha vulnerabilidade, que afetava a minha autoestima de que principalmente me impedia de muitas oportunidades e de ocupação em vários espaços, eu fui para o movimento negro em 1994, e no movimento negro, ao perceber a dificuldade da aceitação da diversidade dentro do movimento, entro no movimento LGTB em 1998, onde fui abraçado pelo Dialogay de Sergipe. Agradeço profundamente Wellington Andrade, José Marcelo Domingos de Oliveira, todas as pessoas que fizeram o grupo Dialogay de Sergipe, que também foi muito importante para nós em Sergipe e no Nordeste, esse impulsionamento para seguirmos nessa luta.”, relatou Andrey.

Andrey Lemos, saudou toda a ancestralidade, e lembrou de figuras importante como Madame Satã, importante ícone de resistência. “Madame Satá foi morar no Rio de Janeiro no início do século XX, e para gente é muito importante essa referência.”, retomou.

O ativista falou da importância de se falar das trajetórias, retomar as narrativas e desenvolver as pesquisas a partir da perspectivas daqueles/as que são silenciados/as. A importância de descentralizar ao falar do início das lutas, se fala muito de Stonewall, mas é importante observar a linearidade histórica que mostra a história da patologização e o preconceito religioso como formas de opressão. O processo e colonização portuguesa dos povos tanto africanos como indígenas, já evidenciava resquícios de criminalização da homossexualidade. “Um dos registros históricos que temos foi do século XVI com o índio Tibira.”, exemplificou.

Por fim, a parlamentar agradeceu a cada participante pela importância educativa e histórica das contribuições. “Muito obrigada por trazerem esse histórico, as perspectivas desde o período colonial até os dias atuais, eu só tenho que agradecer. Esse momento não está sendo fácil, perdi uma amiga e assessora como Tia Neide, uma mulher LGBT, negra, importante ativista e referência no Movimento Mães pela Diversidade, que construiu a CasAmor e continuará contruindo de onde ela estiver, é importante trazer esse movimento das mães e dos pais, porque sempre fomos acusada/os de não ter família, que queremos destruir as famílias, e esse movimento de familiares apoiando é muito importante para ressignificar e fortalecer a nossa luta.”, expressou Linda.

Nos próximos sábados no canal de Linda outros debates vão acontecer como parte deste Ciclo de formação que além de fortalecer e estimular o estudo das participantes da mandata pretende ser uma contribuição dando visibilidade e acesso ao público de temas importantes para todas pessoas que desejam construir uma sociedade justa e livre de desigualdades. No próximo sábado o tema será: “Democracia e autoritarismo na história recente do Brasil”.

 

Ascom Mandata de Linda Brasil