Profissionais da Geração Z começam a marcar presença no mercado de trabalho

Pesquisas apontam que parte do mercado ainda estranha características dos colaboradores mais jovens; especialista em carreiras destaca que as diferenças de relacionamento e engajamento podem ser contornadas com diálogo e comunicação

Publiciado em 25/03/2024 as 09:00
Fauxels/Pexels

Os jovens da chamada Geração Z, que reúne os nascidos entre 1999 e 2010, estão começando a marcar uma maior presença no mercado de trabalho, tendo passado pelas escolas e universidades. Com a chegada deles, algumas características próprias começam a se destacar, seja ela de maneira mais positiva ou ainda causando mais estranhamento entre gestores, líderes e profissionais de gerações diferentes. Algumas pesquisas recentes, divulgadas em publicações norte-americanas especializadas no mundo corporativo, começam a dar pistas de como o mercado está acolhendo estes novos profissionais, e apontam a existência do choque de gerações, também chamado de fit cultural.


Uma delas, divulgada em janeiro pela revista especializada americana Intelligent, entrevistou 800 gestores envolvidos em contratações nos Estados Unidos. Deles, 38% disseram que evitam contratar recém-formados em favor de funcionários mais velhos; 58% acham que os mais jovens não estão preparados para o mercado de trabalho; dois terços acreditam que eles frequentemente são incapazes de lidar com a sua carga de trabalho; e pelo menos 58% acham que os jovens se ofendem com muita facilidade e não estariam preparados para receber feedbacks.


Apesar destes dados, os especialistas em carreiras desmentem essa sensação de que os jovens da Geração Z seriam supostamente menos preparados e mais difíceis de lidar profissionalmente. “Não é verdadeira essa sensação. A Geração Z é sim preparada e não é mais difícil, porque existe gente difícil de lidar profissionalmente em todas as gerações”,. pondera Janaína Machado, gerente do Unit Carreiras, núcleo de empregabilidade da Universidade Tiradentes (Unit). Ela acrescenta que as dificuldades alegadas pelos executivos se dão por outros fatores, relacionados às características de cada geração.


De acordo com Janaína, os profissionais da Geração Z querem trabalhar em algo que lhes traga propósito e satisfação, com possibilidades de crescimento e desenvolvimento pessoal. Buscam flexibilidade de horários em suas jornadas de trabalho, além do equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. E também levam em conta os valores e crenças pessoais, prezando pela autonomia em suas decisões e execuções. “Eles são muito mais questionadores, não recebem ordens e vão perguntar o porquê [das coisas]. Isso mostra que são inteligentes, interessados e querem fazer, mas querem entender o motivo de fazer. Então, se você tem uma liderança que gosta de dar ordem simplesmente por dar e não explica, não diz o motivo, não vai ter engajamento deles”, orienta.


ChatGPT ou meu chefe?


Uma segunda pesquisa realizada nos Estados Unidos pela plataforma corporativa INTOO, com trabalhadores abaixo de 26 anos, mostra que 62% deles gostariam de falar mais frequentemente com o seu gestor sobre a sua carreira, mas não conseguem porque o seu chefe está sempre ocupado. E outros 47% disseram que conseguiram melhores conselhos profissionais ao buscarem ferramentas de Inteligência Artificial (IA), como o ChatGPT.


A especialista acredita que isso acontece devido a três fatores: o imediatismo característico das gerações que tomaram mais contato com a internet e as redes sociais; as respostas prontas e rápidas dadas pelas ferramentas; e o volume de tarefas e demandas que precisam ser cumpridas pelos gestores. “A grande maioria dos gestores estão cheios de trabalho, porque eles também são operacionais, e até porque as dinâmicas das empresas estão cada vez mais crescendo de forma horizontal e não de forma vertical. Por isso, os chefes e líderes acumulam trabalho cada vez mais e nunca tem tempo para se parar e fazer uma orientação profissional, além deles não terem sido também treinados para isso”, explica Janaína.


Pais na entrevista


Outro dado da pesquisa da Intelligent, que chamou mais atenção, diz respeito ao comportamento destes jovens nas entrevistas de emprego: Parte dos entrevistados afirmou ainda que os jovens têm dificuldade de estabelecer contato visual durante a entrevista. E 20% deles relataram que estes candidatos levaram um dos pais para a entrevista, o que passa um sinal de insegurança do candidato. “Isso demonstra que ele não cresceu, que ele precisa e depende emocionalmente dos pais. Por mais que ele esteja se sentindo inseguro, isso deve ser trabalhado antes, e não ir com o pai ou a mãe para a entrevista de emprego”, observa a gerente do Unit Carreiras.


Diálogo e preparo


Para a especialista, essas dificuldades de relacionamento e engajamento entre empresas e funcionários da Geração Z podem ser contornadas com diálogo e comunicação, que alinhem as demandas e expectativas de ambas as partes. “A expectativa deve ser alinhada através de uma boa comunicação, de um plano de carreira, apresentar um futuro para esse jovem, para essa pessoa, para a geração Z. Apresentando perspectiva, entendendo a importância da atividade, do trabalho, da meta, ele vai sim se adaptar e se engajar, com certeza, em realizar a melhor demanda e da melhor forma possível”, destaca ela.


Isso passa também pelos próprios jovens também conhecerem e se adaptarem às características, ao ritmo e às necessidades atuais do mercado de trabalho. Para a especialista da Unit, essa adaptação passa pelo aprendizado e entendimento das tecnologias que estão sendo utilizadas, dos soft skills (competências socioemocionais) necessárias para cada atividade e dos hard skills (competências técnicas) necessárias em cada mercado.


Asscom Unit