Pesquisa sobre pianista sergipana é indicada ao Prêmio Capes

Publiciado em 16/06/2021 as 16:07

Uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPED) da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe) foi indicada para concorrer ao Prêmio Capes de Tese, concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) aos melhores trabalhos acadêmicos produzidos em cursos de pós-graduação no Brasil. Trata-se de uma pesquisa sobre a história da pianista sergipana Helena Lorenzo Fernandez (1914-2003), que atuou por mais de 50 anos como educadora, musicista e adida cultural em embaixadas brasileiras no exterior. 

 

Aprovada no fim do ano passado, a tese “No compasso, ligeiro, da pianista Helena Lorenzo Fernandez: entre práticas pedagógicas, concertos e diplomacia musical brasileira (1931-1985)”, foi produzida pelo professor-doutor Elias Souza dos Santos, egresso do PPED e integrante do Grupo de Pesquisa em História da Educação no Nordeste (GPHEN/Unit). A partir da autobiografia dela (“Caminhos por onde andei”) e de uma série de outros livros, depoimentos, entrevistas, discos, fotografias, documentos e jornais da época, ele reconstituiu a história de vida, a carreira e o legado deixado por Helena, uma filha de imigrantes sírios que chegaram a Aracaju no início do século XX. 

 

Após os estudos na antiga Escola Normal, ela se formou em piano e participou, em 1932, da criação da Casa da Criança (antigo Jardim de Infância Augusto Maynard), além de criar um curso de Teoria e Piano. Elias destaca que a educadora “foi responsável pela formação de um número significativo de musicistas e professoras em Aracaju”. O trabalho ganhou nova dimensão em 1943, quando mudou-se para o Rio de Janeiro e estudou Canto Orfeônico, tendo o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), um dos maiores compositores eruditos do Brasil, como um de seus professores. “Naquele contexto, a disciplina já fazia parte do currículo das escolas brasileiras e era necessário que o professorado tivesse uma formação específica para ministrar a disciplina no contexto da escola”, explica o autor. 

 

Na mesma época, Helena passou a conviver com o maestro Oscar Lorenzo Fernandez (1897-1948), outro renomado compositor da época, e se apresentou com ele em concertos de divulgação de suas obras. Oscar morreu repentinamente, horas depois de um dos concertos, e a pianista, que até então se chamava Helena Abud, adotou o sobrenome e  atuou como professora em conservatórios de música e na Academia de Música Lorenzo Fernandez, criada e dirigida por ela durante 12 anos. Ao mesmo tempo, deu seguimento à carreira musical, atuando em missões culturais promovidas pelo governo para divulgar a música erudita brasileira no exterior. 

 

“No período de 1950 a 1953, a artista sergipana empreendeu diversas turnês internacionais com o propósito de difundir as obras de Lorenzo Fernandez, Villa-Lobos, Francisco Mignone, dentre outros”, conta Elias, acrescentando que o trabalho se consolidou ao longo dos anos até que, em 1965, a convite o então chanceler Vasco Leitão da Cunha, foi chamada para integrar a missão cultural da Embaixada do Brasil em Assunção, no Paraguai, onde apresentou programas de rádio, formou professores de música, reformulou o ensino musical escolar paraguaio e promoveu eventos musicais em estádios de futebol, regendo coros com até 4 mil estudantes. 

 

Helena também trabalhou como adida nas embaixadas brasileiras em Buenos Aires (Argentina), Madri (Espanha) e Paris (França). “Em todos os países nos quais laborou, ela empreendeu intercâmbios entre intérpretes brasileiros e estrangeiros, levou maestros brasileiros para ministrar cursos no exterior e formou uma rede de sociabilidade internacional composta por pessoas influentes e amantes das artes”, destacou Elias, ressaltando o papel dela na consolidação do ensino de música e da composição erudita em nosso país. “Todas essas experiências fizeram-na uma mulher conhecida e respeitada pelos seus pares e pelas autoridades brasileiras. A partir do itinerário de Helena, surgem mulheres e homens, educadoras e educadores, musicistas, concertistas, maestros, maestrinas, compositores e musicistas diplomatas”, salienta o professor.

 

A tese já tem propostas para publicação de um livro e realização de um documentário, além da indicação para o Prêmio Capes. O resultado deve ser divulgado em dezembro deste ano. A importância do objeto e do ineditismo da pesquisa foram ressaltadas pela banca examinadora na indicação da pesquisa. “Eu sabia que o objeto era maravilhoso e me dediquei ao máximo na leitura, nas análises e nas buscas por fontes que pudessem me ajudar a entender a trajetória dessa educadora. Eu estou tranquilo. Mesmo que não seja premiado, sei que a minha tese está entre as melhores do Brasil”, garante Elias, sem esconder a surpresa e a felicidade com a indicação de sua tese. 

 
 
 
Assessoria de Imprensa | Unit