De Goiás a Sergipe: a candidatura importada que acende o debate sobre representação política

Publiciado em 10/12/2025 as 10:23

O tabuleiro político sergipano ganhou um personagem inesperado – e, para muitos, improvável. Wellington Camargo, irmão da dupla Zezé Di Camargo & Luciano, aceitou o convite para disputar uma vaga na Câmara Federal por Sergipe nas eleições de 2026. O aceno partiu do ex-deputado estadual Augusto Bezerra, que hoje atua nos bastidores através da empresa AB Consultoria.

A decisão, porém, caiu como um estalo em pleno silêncio político: surpresa para alguns, afronta para outros. Para além da fama familiar, Wellington nunca morou em Sergipe, nunca exerceu atividade política no estado e tampouco tem histórico de defesa de pautas locais. Ainda assim, deve entrar na corrida ao cargo mais cobiçado entre as representações estaduais no Congresso.

Nas redes sociais, a reação foi imediata – e dividida. Entre boas-vindas de simpatizantes e seguidores da família Camargo, surgiram críticas afiadas. A mais viralizou por sua acidez:

“Ridículo isso, convidar alguém para representar nosso povo sem sequer conhecer nossa história, nossa cultura. O que ele e a família fizeram por Sergipe? Ah, sim: emocionaram alguns sergipanos com músicas sertanejas. Esse é o legado dele”, ironizou um internauta.

A crítica toca em um ponto sensível: o fenômeno das candidaturas “importadas”, quando nomes de fora são estrategicamente lançados em estados onde têm pouca ou nenhuma ligação. Em outras palavras, uma espécie de franquia eleitoral – na qual o próprio território vira apenas um palco a ser usado.

A trajetória recente de Wellington Camargo também não ajuda a construir uma narrativa sólida de representatividade. Filiado ao Avante, ele tentou se eleger vereador em São Paulo, mas teve apenas 746 votos, insuficientes para conquistar uma cadeira, apesar da campanha reforçada pelo irmão famoso, que gravou vídeos e mobilizou fãs.

Antes disso, Wellington teve um momento de destaque político: foi deputado estadual em Goiás entre 2002 e 2006. Contudo, sua atuação não reverbera na memória nacional, e agora, quase duas décadas depois, Sergipe aparece como o novo porto onde ele pretende ancorar suas ambições.

A questão é: Sergipe precisa de representantes ou de celebridades? Ou, ainda mais profundo: até que ponto o capital simbólico da fama pode continuar substituindo vínculos reais com o território e suas demandas?

Enquanto isso, o eleitor sergipano assiste a mais um capítulo de uma tendência crescente na política brasileira – onde a popularidade, mesmo que importada, tenta abrir caminho para o poder. Se vai dar certo, as urnas dirão. Mas o debate sobre pertencimento, identidade e representação já está colocado.

 

Fonte: Horas News

 

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