Bactérias no combate ao câncer? Estudo aponta novos caminhos para tratamentos
Pesquisa desenvolvida na Universidade Tiradentes analisou o potencial da Salmonella enterica Typhimurium como aliada no tratamento de tumores

Ao ouvir falar em bactérias, muitas pessoas imediatamente pensam em doenças e infecções. No entanto, o avanço da ciência tem revelado que esses microrganismos podem desempenhar papéis além dos processos infecciosos, sendo utilizados, por exemplo, na fabricação de medicamentos e até no combate ao câncer. Foi nesse contexto que uma pesquisa conduzida na Iniciação Científica (IC) da Universidade Tiradentes (Unit) investigou o uso da Salmonella enterica Typhimurium como uma possível ferramenta no tratamento de tumores.
A escolha do tema surgiu do interesse da pesquisadora Camilla Valença, egressa do curso de Nutrição da Unit e atualmente doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Industrial (PBI). “Sempre me interessei por microbiologia e, quando surgiu a chance de explorar esse campo, agarrei a oportunidade”, relata.
O objetivo do estudo foi realizar uma meta-análise de informações científicas já publicadas sobre a hiperexpressão de promotores da Salmonella enterica Typhimurium, que são ativados de forma preferencial dentro de células tumorais. “Nossa pesquisa analisou, estatisticamente, a viabilidade dessa bactéria na proliferação dentro de células cancerígenas. A proposta é que a Salmonella funcione como um vetor, transportando toxinas para o interior das células tumorais e induzindo sua destruição”, explica Camilla.
Avanços que fazem a diferença
Os impactos da pesquisa vão além do campo teórico, contribuindo para o desenvolvimento de novas abordagens no tratamento do câncer. Para Camilla, a ideia de utilizar bactérias nesse contexto foi surpreendente. “No início, eu sequer imaginava que esses microrganismos poderiam ser considerados aliados no combate ao câncer. Com o tempo, percebi como a microbiologia está presente em praticamente tudo ao nosso redor”, afirma.
Embora não tenha dado continuidade a esse projeto específico após a Iniciação Científica, Camilla manteve seu foco na microbiologia durante o mestrado e o doutorado. Atualmente, sua linha de pesquisa envolve a prospecção de bactérias encontradas nas praias da Atalaia e Aruana, com o objetivo de identificar compostos antimicrobianos de interesse biotecnológico. “A ciência é um universo fascinante, e novas descobertas surgem a todo momento. Meu doutorado, por exemplo, me levou até a França, onde pude ampliar ainda mais minha bagagem de conhecimento”, compartilha.
Oportunidades através da pesquisa
A trajetória acadêmica de Camilla foi fortemente impactada pela experiência na Iniciação Científica. “Desde o começo, a Unit me ofereceu todo o suporte técnico necessário para desenvolver minhas pesquisas, especialmente por meio do Instituto Tecnológico de Pesquisa (ITP)”, destaca. Ela também ressalta o papel essencial do incentivo recebido ao longo de sua formação. “Minha orientadora na época, Dra. Luciana Hollanda, teve um papel fundamental ao me ensinar a buscar artigos científicos, tabular resultados e estruturar a rotina de um pesquisador. A IC foi essencial para eu ter certeza de que queria seguir na área acadêmica”, completa.
A pesquisa realizada na Unit acompanha uma tendência crescente dentro da oncologia. Segundo Camilla, essa estratégia terapêutica vem ganhando cada vez mais reconhecimento no meio científico. “Até 2022, a técnica ainda estava em fase de testes clínicos e já havia recebido aprovação da FDA (Food and Drug Administration). Essa inovação abriu espaço para as chamadas terapias combinatórias, que associam diferentes métodos para combater o câncer de forma mais eficiente”, ressalta.
Para aqueles que desejam se aventurar no universo da pesquisa, Camilla dá um conselho: experimentar. “A Iniciação Científica é a oportunidade ideal para descobrir se esse caminho faz sentido para você. Quem gosta de explorar, questionar e estudar deve considerar essa experiência. Mesmo que não siga a carreira acadêmica, o conhecimento adquirido será um grande diferencial. A ciência está em constante evolução, e os profissionais da saúde precisam acompanhar essas mudanças”, finaliza.
Autora: Laís Marques
Fonte: Asscom Unit
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